Determinada. Essa, talvez, seja a principal característica da vice-presidente da Komeco, Cristina Freitas. Natural de São Miguel do Oeste, a empresária contou sobre o sucesso frente à importadora. Além de revelar suas conquistas no mundo dos negócios, ela nos conta como é dividir vida pessoal e profissional com o marido Denisson Freitas, presidente da Komeco.

Como você saiu do interior para a capital?

Minha mãe sempre teve muita coragem. Com 11 anos perdi meu pai e minha mãe ficou com 9 filhos para cuidar sozinha; nesta época, a filha mais velha tinha 22 anos e o mais novo tinha 6 anos. Com o falecimento do meu pai, minha mãe resolveu sair de São Miguel e vir para Florianópolis para que pudéssemos estudar em escolas maiores. Ela escolheu Florianópolis colocando nomes de cidades em papéis e fez um sorteio para saber para onde ela deveria mudar, e assim aconteceu. Ela tinha muita fé que a cidade que saísse no papel seria a melhor para todos. Depois de três anos ela fez a mesma coisa e saiu para a cidade de São Paulo e fomos para lá, onde morei por oito anos.

Nessa época, estava terminando meu segundo grau e estava empregada em São Paulo. Eu já era professora e me dava muito bem na escola onde eu trabalhava. Quando falei que eu iria pedir as contas, porque minha mãe precisava voltar para Florianópolis, a diretora pediu que eu ficasse por mais seis meses para não frustrar os meus alunos. Então, resolvi ficar mais um semestre em São Paulo e em junho eu decidi que retornaria.

Nessa época que você conheceu o Denisson?

Nesses seis meses que fiquei sozinha em São Paulo conheci o Denisson, que foi uma questão de estar no lugar certo na hora certa. Já havia o visto, porque estudávamos no mesmo colégio. Em maio, o colégio fez uma programação numa igreja, e eu era a única que não estava uniformizada, pois os uniformes dos professores ficaram prontos naquela época e eu não fiz o meu, pois sabia que no final de junho eu viria embora. Quando chegamos lá para fazer a programação na igreja, a diretora falou que me queria lá na frente, então preferi ficar no auditório. Ela insistiu e entrei na plataforma, sentei ao lado de uma professora que gostava do Denisson. E, casualmente, ele entrou na igreja naquele dia, sentou e não tirou o olhar da nossa direção. Essa minha colega ficou muito feliz e falou que ligaria para ele, já que ele estava com o olhar nela o tempo todo. Eu disse a ela que não fizesse isso, mulher nenhuma corre atrás de homem. Eu comentei: “Ele sabe onde você trabalha, e eu tenho certeza absoluta que quando o homem gosta, ele corre atrás”. Nós saímos, nos conhecemos melhor e começamos o nosso relacionamento. Um mês depois que comecei a namorar o Denisson, voltei a morar em Florianópolis.

Quando vocês começaram a empreender?

Ele trabalhava como contador e eu trabalhava como professora. Para ganhar dois salários, eu trabalhava de manhã e de tarde como professora, e durante a noite fazia docinhos para uma confeitaria. Uns três anos depois que estávamos casados, surgiu a oportunidade de comprarmos 50% de um escritório de contabilidade que minha irmã era sócia com outra pessoa. Essa outra pessoa queria vender a parte dela. No início fui um pouco contra, mas depois percebi que essa seria uma ótima oportunidade para nós, e foi desta forma que começamos nosso lado empresarial.

Como começaram com as importações?

Nós tínhamos um cliente no escritório de contabilidade que era chinês e tinha um restaurante aqui no Brasil. Ele ficava de 6 a 7 meses aqui, e de 2 a 3 meses na China. Teve uma época que a esposa dele recebeu uma herança em terras na China e precisou voltar a morar lá. Então, falou que tinha interesse em fazer negócios conosco. Um tempo depois ele veio com a proposta de vendermos toalhas de plástico. Em 1992 não tinha esse produto no Brasil. Nós nos reunimos: eu, meu marido, minha irmã e meu cunhado, para decidirmos se iríamos importar. Chegou um contêiner aqui no Brasil e ninguém conseguia vender. O Denisson queria vender nas Lojas Americanas, por ser uma rede grande, e se a empresa comprasse, nós já teríamos uma rede de umas 60 lojas com o produto, mas foram seis meses de negociação até conseguirmos fechar essa primeira grande venda.

Como foi chegar a esse leque de produtos que vocês importam hoje?

Em 1994, esse mesmo cliente chinês nos disse que havia uma empresa no Rio Grande do Sul que tinha comprado um contêiner de aquecedor a gás e não tinha dinheiro para tirar do porto, nem para pagar o fornecedor. Ele nos perguntou se nós poderíamos tirar do porto e tentar vender. Disse que se conseguíssemos vender, deveríamos pagar diretamente o fornecedor, já que não seria viável devolver essa mercadoria de volta pra China. Para tentar ajudá-lo, tiramos a mercadoria do porto e foi uma surpresa, porque os dois concorrentes que tínhamos no momento de aquecedor estavam fora do mercado, assim toda a mercadoria foi vendida rapidamente. Então, nós continuamos com esse produto. Com os condicionadores de ar foi diferente, tivemos um planejamento para começar a importação, mesmo porque é um produto que precisa de um pós-venda bem estruturado e também já conhecíamos o mercado.

Como é ser vice-presidente da Komeco?

Esse negócio de vice-presidência até é meio estranho, porque no fundo eu e meu marido somos sócios. Como não tem como ter dois presidentes numa empresa, então ele fica como presidente e eu como vice. Mas não me considero nem vice, nem presidente; me considero, na verdade, uma companheira dos meus funcionários. Procuro motivá-los sempre. Até 2004, mais ou menos, eu adorava fazer inventário, então, se você me procurasse, eu estaria em cima das caixas fazendo inventário. Não preciso mais fazer isso, mas gostava de contar meu estoque: quanto tinha, quanto não tinha, preparar pedido. Então, isso de ter o cargo presidente ou diretor para mim pouco importa.

Quais os seus desafios no dia a dia da empresa? Por que resolveram abrir uma fábrica em Manaus?

A nossa empresa teve um crescimento muito rápido nos últimos anos e os desafios acompanharam esse crescimento. Quando saiu essa lei de que os impostos estariam subindo, nós não tivemos outra opção: tivemos que abrir uma fábrica em Manaus. Ou nós abriríamos em Manaus ou então estaríamos fora do mercado. No começo achamos isso muito complicado, porque você tem uma estrutura toda feita em Florianópolis e Itajaí e em pouco tempo tem que construir uma nova estrutura em Manaus. A distância foi um problema que tivemos que superar, mas a nossa opção era: ou encerrávamos as atividades ou seríamos fabricantes. Na realidade, o que era para nós um problema, hoje é uma solução. Antes que saísse essa lei dos impostos, nós tínhamos mais ou menos 25 concorrentes de ar-condicionado. A partir do momento que saiu a lei, ficamos somente com 7 concorrentes. Só ficaram as multinacionais, e hoje nós temos um diferencial: somos a única empresa brasileira com fábrica em Manaus, todas as outras são multinacionais.

Você teve alguma referência ou inspiração para se tornar uma empreendedora?

Na realidade, comecei muito cedo, com 13 anos, com minha primeira carteira assinada, que na época até assinavam carteira de menores de idade. Não digo que é uma inspiração, mas meu pai sempre foi muito empreendedor, tudo que ele montava dava certo. Ele sempre foi uma pessoa com visão empreendedora, e os filhos acabaram puxando um pouco ao estilo dele. Meu pai era muito positivo e sempre achava que tudo ia dar certo e as coisas aconteciam. Nós seguimos mais ou menos esse mesmo rumo. Minha mãe nunca teve medo de nada, e ainda tenho ao meu lado o Denisson, que também é uma pessoa muito empreendedora. Portanto, não tenho nenhuma pessoa que me inspirou, mas com certeza estas três pessoas foram fundamentais para que não tivesse medo de empreender.